terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ditando

Já me disseram até mais de uma vez
Que nem tudo é fácil
Que a vida não é um mar de rosas
Mas os conselhos são escassos

Não ensinam a fazer acontecer
Não ensinam a não se afogar
Mas eu queria apenas ver
De quem aconselha
Quantos estão salvos

Me falaram pra procurar ser feliz
Tentar me encontrar, fazer o que gosto
Mas estamos conversando sobre o dia
Em que vocês também
Não estarão mais procurando

Mas não nos encontramos
Por que nenhum de nós deu a partida
Afinal nenhum de nós conhece a vida
Do jeito que imaginamos

Mauricio de Lima - 13/10/2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Decência Egoísta

Toda noite ele prometeria
Fazer algo diferente
E prometia que não mais adiaria
Viver uma vida decente

Ele prometeria
Mas apenas se tivesse
O que ele queria

Prometeria
Se a vida fosse igual
A sua outra vida

Mas não
Nada foi como quis
Às vezes até alguma coisa saiu...
Disso sabia

Mas não
Não foi o suficiente
Não pra viver decentemente
Não pra justificar viver contente

Não pra não deixar de prometer
Que sempre prometeria
Esperando acontecimentos, somente
Do jeito que queria


Mauricio de Lima - 17/10/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sempre cabe mais um no coração da Mãe Solteira

No topo da montanha
Olhou com outros olhos
O campo de mato seco
A geada na grama

O vento soprou
Como sempre
Da sua maneira igual:
Diferente

Encurvando as árvores
Assoviando no ar
Alisando o mar
Acompanhando a gente

Só mais um dia ele pediu
Só mais um dia ele teve
Relembrou em um dia, mil
E partiu...
Pra onde jamais esteve

Sonho de muitos
Mudança de vida
De cidade em cidade
Fazendo sua trilha

Construir e destruir
Com sua própria mão
Um novo amor
Uma nova ilusão

...

Fora só mais uma...

...

Decidiu-se ir
No rastro da lua;
A mãe dos amantes

Mãe solteira, enfim
Iluminando a rua
Como fizera antes

Várias vezes assim
Até sumir de manhã
Esvaindo-se no horizonte


Mauricio de Lima - 13/10/2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Inanidade

Quem dera se ainda existisse
A possibilidade de ocorrer
Alguma teoria diferente
Caos, linha... Corrente.
Mas não temos esperança
De nada no momento
Continuamos nosso terror
Só existindo e assistindo
A areia do tempo
Escorrer por nossas mãos
A ampulheta não foi quebrada
O tempo ainda corre
E nós o seguimos, sem nada
Sem direção e objetivo
Seguimos o rastro
Do nosso próprio fracasso
De séculos atrás
E séculos a frente
Até toda essa merda se explodir
Se explodir com a gente.

Mauricio de Lima - 26/08/2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os únicos

Um oceano de problemas
Onde ele se afogou
Andando na areia, submerso
Carrega o peso

Nas costas

Um peso

Eterno.

E a pressão que não mata
Nem implode
E o frio ele sente
Mas não o congela
A água o carrega
Mas não o molha
E a sua dor...
Eterna.

Imóvel
Impedido de morrer
Pelo sentimento de angústia
Medo de se render

à covardia - ou egoísmo
Impedindo de morrer

Todos os problemas desaguam
Como rios no mar
No oceano de desgraça
E só ele está lá...
Carregando nas costas
Toda a dor do mundo

E ele, eu, você.
Nos achamos os únicos.


Mauricio de Lima - 20/06/2011

sábado, 30 de abril de 2011

Vácuo

Ele sorria muito
E por trás daquilo
Ninguem percebia
Que só era aquilo
Para não demonstrar
O que o afligia

Sua tristeza era tanta
Que driblou suas lagrimas
Gritando sorrisos
Quase que verdadeiros
Escondendo os motivos
Do auto-desprezo



Mauricio de Lima - 30/04/2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

No Metrô

Um velho me parou no metrô
Disse que já foi no céu
Lá todo mundo veste branco
E tem dois metros de altura
Sorriso da cor de fogo
E não anda, flutua...

Pensei nisso a tarde toda

Ele tambem me falou
Que lá é onde a gente vive
E aqui que pagamos os pecados

Estamos no inferno
Com merda até o pescoço
Sustentando o peso do corpo
Pela vida toda

E ele não era louco...
Era só um velho
Que quase morreu
Que casou, teve filhos...
E continuou são, menos salvo
Caiu de cabeça na calçada
Conheceu o céu, e voltou
E veio me contar isso tudo

Tudo este que eu não tenho
O direito de desacreditar
E nem de acreditar
Somente acrescentar...
Mais uma maneira de ver a vida
Colocando entre o "não" e o "sim"
Um "talvez"
Mais uma vez.

Mauricio de Lima - 19/04/2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

Diga O Que Quer Ouvir

Por mais duro que seja seu coração
Eu sei que hoje ele só é assim
Por que já sofreu demais...

Não te culpo
Por não conseguir se apaixonar
Não sei o caminho que voce trilhou
Mas consigo imaginar

Pela expressão no seu rosto
E as diversas tentativas de se afastar
Justamente quando sente que se aproxima
O sentimento que mata aos poucos

Acredita em mim, eu consigo entender.



Mauricio de Lima - 10/03/2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Massa

Vivem se arrumando, coitadas...

Sempre que olho pra elas
Estão montadas
Ou, popularmente falando
Bonitas.

E lá vem o esquadrão da verdade
Com baldes d'água contra chapinha
Correndo em direção às suas casas
Alagando suas cabeças
Fazendo escorrer
A massa corrida em seus rostos

E a massa
Corrida e escorrida
Revela mulheres bem diferentes
A verdade foi lançada no ventilador

E nenhuma delas quer sentir a dor
De seduzir com o olhar sem suas lentes
De se sentirem nuas sem...
A massa.

Mauricio de Lima - 27/02/2011

http://vocaroo.com/?media=vFhOzXejiKovDMmyo

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Nada

Há muito tempo
Tenho firmeza ao dizer
Que tudo que lhe escrevo
Sem escolher, eu vivi

Já degustei e gorfei
De tudo que sentes
E me sinto no direito
De lhe dizer que...

Não há nada de poético na dor
Nem no ódio, nem no amor
Não há nada de poético em matar
Viver, amar, escrever, pensar

Nada do que se faz poesia é poético
Nada do que se pensa com emoção vale a pena
Nada do que se sente com a razão é poema
E tudo que seja feito assim
Nunca será o que consegue sentir

E caminharemos para uma neutralidade cinzenta
Emoções controladas, um milhão de brecadas
Para pensar que consegue
Ser o que nunca foi...


Frio.


Mauricio de Lima - 22/02/2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

Roda do Mundo

Ele era apenas um homem normal, com sonhos e metas a cumprir
Mas decidiu viver uma vida diferente, diferentemente existir
Iconoclasta, considerado por muitos um sujeito asqueroso
Tanto em pensamentos como pelo seu corpo, seu rosto
Não precisaria de nada, nada que não fosse criado por si só

Este era o pensamento, esta era sua filosofia
Tão simples como ele, tão dificil de ser seguida
Ele sabia sim, que aqui pregava o que não fazia
Chegou até pensar que era uma farsa, uma mão sem via
Seus dizeres ecoaram o mundo, uma faca a destrinchar um nó

Tudo isso durante certo tempo, que no seu mundo foi bastante
Pequeno mundo percorrido a pé, muito sofrido e lancinante
Fez um povo vil acreditar, ovacionar sua história de vida
Novamente a contradição com sua suposta iconoclastia

Jogou no chão todos seus escritos, fez dele mesmo um mendigo
Parou de percorrer o mundo, deixou ser pervertido
Nada mais daquilo tinha valor, mas o povo ainda o perseguia
Declarava amiúde seus pensamentos agora sem valia

Como agora fazer retornar ao antro da ignorância
Sendo que fez ser seguido por um caminho incerto
E percebeu tarde demais que a agnosia o tinha aberto

À tudo que conhecera e se revoltara, à sua ânsia
De querer redefinir o novo sem a base do velho
De fazer o povo vil crescer se tornando um mistério

Chovendo perguntas sem respostas, pedras virando a mesa
Abalando sua estrutura de monge à francesa

O tiro no pé de uma mente evoluída, sublime
Preocupado com os outros, fez-se imenso em vime

Lughnasadh, lughnasadh
Invés de grãos e frutas, a população obtusa
Empurrada ao fogo, um milênio em brasa
Virando um mundo em erros
Seus erros em fumaça




Mauricio de Lima - 02/01/2011